De que adianta contratar um colaborador que só fala em inglês para se comunicar com um que só sabe português? Não tem muita lógica, e embora muitas pessoas acreditem que até pode haver comunicação, a chance dela ser falha é enorme. O mesmo acontece quando o assunto é a sinalização manual para içamento por meio de guindastes. É possível ter pessoas que desconhecem os sinais de comunicação oficiais de uma operação e o empregador corre o risco de ter processos ineficazes e desastrosos.
Por isso mesmo, para movimentações de cargas, é fundamental investir em capacitações e treinamentos para a compreensão e aprendizado dos sinais de comunicação – sejam eles por sinais manuais ou via rádio.
A capacitação de colaboradores favorece a comunicação e reduz riscos nas operações.
Toda movimentação de carga acontece no momento em que há o deslocamento de cargas de um Ponto A até um Ponto B (e demais pontos, caso necessário). Como exemplo, podemos citar um guindaste que chega de navio da Alemanha ao Porto de Vitória e precisa ir até o Rio de Janeiro através de modal rodoviário. Neste caso citado, o içamento pode acontecer do navio diretamente até o modal que levará a carga adiante.
Esse movimento é muito específico e dependerá das condições do ambiente em que ambos os modais estiverem situados, bem como da própria carga. Para conseguir realizar a tarefa com sucesso, são necessárias várias pessoas, incluindo o operador do guindaste e o sinaleiro amarrador.
Como o operador do guindaste pode apresentar por vezes uma amplitude visual reduzida, em decorrência das interferências, cabe ao sinaleiro ser os olhos do operador. Para isso, mantém sempre o contato visual e realiza sinais de comunicação que auxiliam a movimentação da carga de maneira eficiente e segura.
Quais os principais sinais de comunicação no içamento para movimentação de carga
Desde o início da operação até o término da tarefa, o sinaleiro deve realizar sinais para o operador do guindaste. Veja os principais para a movimentação de carga:
Elevar a carga
Com o antebraço na posição vertical, com o dedo indicador apontado para cima, movimente a mão em pequenos círculos horizontais.
Sinal para Elevar a Carga – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Mesmo que o seu movimento não fique idêntico ao original (na minha imagem meu braço está flexionado, contudo o indicador está apontado para cima, indicando claramente o movimento elevar lança). O importante de tudo é que o sinal seja entendido e compreendido como elevar lança. Na hora H algo pode sair um pouco do “prumo”, e tudo bem!
Abaixar a carga
Com o braço estendido para baixo, indicador apontado para baixo, movimente a mão em círculos horizontais. Mesmo que o seu movimento não fique idêntico ao original (na minha imagem meu antebraço está na posição horizontal, contudo o indicador está apontado para baixo, e a mão será movimentada em círculos horizontais) o importante de tudo é que o sinal seja entendido e compreendido como arriar carga. Na hora H algo pode sair um pouco do “prumo”, e tudo bem!
Sinal para Abaixar a Carga – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Elevar a lança
Braço estendido na horizontal, dedos fechados, polegar apontado para cima. Mesmo que o seu movimento não fique idêntico ao original (na minha imagem meu braço está flexionado, contudo o indicador está apontado para cima, indicando claramente o movimento elevar lança). O importante de tudo é que o sinal seja entendido e compreendido como elevar lança. Na hora H algo pode sair um pouco do “prumo”, e tudo bem!
Por que eu estou mencionando essa questão do sinal em alguns momentos não ser idêntico e muitos irão se identificar com isso? Por que em muitas empresas o sinaleiro amarrador é um profissional da área de apoio (manutenção, operação), por vezes não estão todos os dias, todas as horas fazendo sinal, é comum ora ou outra acontecer.
Esse sinal possibilita que seja reduzido o raio de operação, ou seja, a carga é aproximada em direção ao centro de giro do guindaste, ofertando então mais capacidade de carga, é importante o sinaleiro entender o mecanismo de momento de carga.
Sinal para Elevar a Lança – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Abaixar a lança
Braço estendido na horizontal, dedos fechados, polegar apontado para baixo. Mesmo que o seu movimento não fique idêntico ao original (na minha imagem meu braço está flexionado, contudo o indicador está apontado para baixo, indicando claramente o movimento abaixar lança). O importante de tudo é que o sinal seja entendido e compreendido como abaixar lança. Na hora H algo pode sair um pouco do “prumo”, e tudo bem!
Esse sinal faz com que haja o aumento do raio de operação, ou seja, a carga se afasta do centro de giro guindaste, reduzindo a capacidade de carga do equipamento, é importante o sinaleiro entender o mecanismo de momento de carga. Obviamente estamos partindo do princípio que houve um planejamento prévio com imposição de limites operacionais, e que o operador está atento no monitoramento em sua tela de trabalho (para guindastes que possuem). Para os que não possuem, aí que o sinaleiro e operador devem redobrar a atenção, devem obrigatoriamente conhecer os princípios de funcionamento dos guindastes.
Sinal para Abaixar a Lança – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Girar a lança no sentido indicado
Com o braço estendido na horizontal, o dedo indicador apontando o sentido do giro. Reforço que para todos os sinais manuais o sinaleiro deve se manter visível para o operador o tempo todo durante a movimentação.
Sinal para Girar a Lança no sentido indicado – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Abaixar a carga lentamente
Com a mão espalmada sob a outra mão que está sinalizando, indicador apontado para baixo, movimente a mão em círculos horizontais. Esse movimento é extremamente importante que seja realizado de forma assertiva, principalmente para as empresas que trabalham com montagens industriais eletromecânicas, pré moldados, nas paradas de usina, mobilização e desmobilização de plantas fabris, porque o profissional montador geralmente precisa de ajuste fino, de sutileza no encaixe de determinado componente.
Sinal para Abaixar a Carga Lentamente – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Elevar a carga lentamente
Com a mão espalmada sobre a outra mão que está sinalizando, indicador apontado para cima, movimente a mão em círculos horizontais.
Sinal para Elevar a Carga Lentamente – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Use o cabo principal, no caso o bloco do moitão
Coloque a mão sobre a cabeça para indicar o bloco do moitão, em seguida faça o sinal desejado.
Sinal para Uso de Cabo Principal – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Use o cabo auxiliar, no caso a bola peso
Coloque a mão sobre o cotovelo para indicar o cabo auxiliar, em seguida faça o sinal desejado.
Sinal para Uso de Cabo Auxiliar – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Sinal amarrar tudo
Cruze as mãos em frente ao corpo. Esse sinal apresenta ruídos na interpretação entre duas referências bibliográficas a seguir:
- ABNT NBR 11436, DEZ/1988: Sinalização manual para movimentação de carga por meio de equipamento mecânico de elevação.
- ASME B30.5, The American Society of Mechanical Engineers, Mobile and Locomotive Cranes.
Na ABNT está pedindo para amarrar tudo (catraca, esticadores, etc).
Na ASME está pedindo para parar tudo, desligar toda a operação.
Qual o sinal que faz sentido? O sinal da ASME, pois parte-se do pressuposto que para iniciar uma sinalização de içamento a carga encontra-se devidamente amarrada. Ou seja, no decorrer da operação você percebe um risco ora não identificado, o sinal amarrar tudo é recomendado conforme a ASME B30.5.
Sinal para Amarrar Tudo – Fonte da Imagem: Acervo pessoal Wildson de Jesus
Uma outra opção para parar a atividade em caso de risco identificado, é a parada de emergência, com os dois braços esticados na horizontal e as mãos espalmadas para baixo, movimente horizontalmente os braços para frente e para trás.
Sinal para risco identificado – Fonte da Imagem: ASME B30.5.
Cabe ao sinaleiro também permanecer em zona de segurança, ou seja, no perímetro demarcado como seguro, respeitando sempre as barreiras de isolamento.
Para operações que haja dificuldade pelo operador na visualização da carga, é recomendado o uso de rádios, reforço também que a comunicação por meio de rádios requer cuidados especiais e treinamento adequado para os sinaleiros e operadores de guindaste. Em empresas de celulose, siderurgia, por exemplo, os içamentos chegam facilmente a alturas de 70, 80 metros, sendo impossível trabalhar com a sinalização manual. O sinaleiro deve, neste caso, optar pelos sinais por meio de rádio para fazer a comunicação com os operadores.
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Por que quem comunica evita riscos?
Todos os sinais de comunicação auxiliam no trabalho do operador de guindaste, que torna o ambiente mais seguro porque consegue enxergar a área e a carga mesmo quando está operando com baixa visibilidade. Quanto mais treinados estiverem os colaboradores, mais eficiente será a comunicação entre eles.
A NR-18, que entrou em vigor efetivamente neste ano, prevê que as operações de içamento de cargas sejam planejadas e que sejam contempladas no PGR (Programa de Gerenciamento de Riscos), prevê ainda que os sinais de comunicação sejam utilizados e que, para isso, os profissionais devem passar por capacitações e treinamentos específicos. A capacitação é, portanto, obrigatória.
Não enxergar que a falta de comunicação é um problema é tão grave quanto não investir na segurança dos trabalhadores, sendo motivo para perdas enormes para a empresa, que assume o risco de tragédias e perdas financeiras e de pessoas.