Como a hierarquia de controle de riscos ajuda na prevenção de acidentes

Muitos eventos naturais e não naturais podem apresentar riscos incontroláveis e com efeitos negativos e indesejados para as empresas. Por isso mesmo, eliminar os perigos e mitigar riscos são metas de toda corporação, independente de seu tamanho ou número de colaboradores. Para que essa gestão de riscos e prevenção de acidentes sejam feitas da forma correta devem levar em consideração muitos aspectos relacionados ao meio ambiente, mas também as questões de engenharia e/ou humanas.

Não é fácil compreender todo o processo de gestão de riscos em organizações, especialmente porque há muitas questões envolvidas nesse diagnóstico. Além disso, ele pode ser realizado com a empresa já em funcionamento ou ainda na fase de elaboração do projeto.

Durante duas décadas trabalhei em uma multinacional de óleo e gás atuando como engenheiro especialista em movimentação de cargas e utilizei (e continuo utilizando na minha jornada profissional) uma ferramenta que me permitiu potencializar a segurança nas operações e evitar diversos acidentes ao longo dos anos: a pirâmide invertida para hierarquia das medidas de controle contra os riscos.

Mas o que é a hierarquia de controle para os riscos?

A hierarquia de controle de riscos é pensada em uma pirâmide invertida (ou deitada), a qual temos uma decrescente importância dos processos e ações que minimizem os riscos encontrados na empresa.

Hierarquia de Controle dos Riscos – Fonte: Post Wildson de Jesus

Nessa compreensão, de acordo com a ISO 45001:2018 a organização deve estabelecer, implementar e manter um processo para a eliminação de perigos e redução de riscos, utilizando a hierarquia de controles, trabalha-se com graus pensando no mais efetivo ao menos efetivo.

Etapa 1: eliminação

Eliminar o risco, a probabilidade do fato é a melhor ação a ser realizada. Para isso, são pensadas todas as possibilidades em que há riscos que podem afetar diretamente o andamento do processo e se elimina tal elemento. Pode ser um equipamento, local de trabalho ou até mesmo uma atividade específica.

Etapa 2: redução ou substituição

Quando é possível substituir processo ou equipamento inseguro para um mais seguro é preferível assim o fazer. Também trabalha-se com produtos menos agressivos.

Aqui pode ser trabalhado a proposta de alteração de um modal por outro mais pertinente a cada situação de risco identificada, como substituir uma empilhadeira por uma paleteira, onde o objetivo é atender a o primeiro nível da hierarquia, neste caso, eliminar o risco de atropelamento contra pessoas.

Etapa 3: controle de engenharia

Aqui o ideal é fazer adequações permanentes no ambiente de trabalho, a fim de que máquinas, processos e produtos sejam seguros à equipe.

Também é fundamental fazer manutenções constantes dos mesmos, evitando riscos desnecessários ou preveníveis.

“Ah, mas eu não consigo substituir o modal empilhadeira por paleteira”. Então que tal pensar no controle de engenharia para mitigar os riscos contra atropelamento com pessoas, batidas contra?

Implementar tecnologia é uma excelente fonte de mitigação de riscos, instalar um pacote de sensores de aproximação, câmeras de segurança, luzes de led indicadoras/sinalizadoras (blue spot), demarcação visual no ambiente como caminhos seguros de circulação para as pessoas, barreiras físicas automatizadas.

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Etapa 4: controle administrativo

A capacitação é extremamente importante para o bom andamento do projeto, porque equipe bem treinada mitiga riscos.

 

E lembre-se, a cada revisão de documentação, a cada gestão de mudança, o time deve ser treinado novamente conforme as alterações.

Etapa 5: utilização de EPI

Embora muitas pessoas acreditem que esse seja o item mais importante, ele está ao final da pirâmide. Isso acontece exatamente porque de todas as medidas implementadas, o uso de EPI só irá funcionar efetivamente com a aplicação das demais atividades e processos. Mas não é porque está classificado como última atividade que a escolha de equipamentos não deve ser feita buscando a segurança e eficácia, bem como não se deve deixar de lado o treinamento e conscientização.

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Quando implantar a hierarquia de controle de riscos na sua empresa?

Utilizo a hierarquia de controle há muito tempo, como já mencionei, e aplico essa ferramenta sempre que inicio um novo projeto nas empresas. Mas isso não significa que em uma operação em andamento não possamos realizar. Pelo contrário, grupos de trabalho que seguem a filosofia da hierarquia de controles dos riscos têm afirmado incisivamente a necessidade da implementação em todos os ambientes corporativos.

Na época em que eu trabalhava especificamente com Óleo e Gás, era notável que essa importância era ainda maior, principalmente porque ao eliminar os riscos para o ambiente marítimo, em um cenário de águas abrigadas e de alto mar, por exemplo, garantia a qualidade e a eficácia do nosso trabalho.

Hierarquia de controle e o Caso P52

Empresas que optam por usar a hierarquia de controle ainda na fase de construção do projeto largam na frente das demais, com certeza. Especialmente porque a mitigação dos riscos é feita de maneira muito específica e controlada, observando detalhes que alteram a construção do projeto, por exemplo.

Um dos casos mais emblemáticos do uso que remete a hierarquia de controles foi a construção da plataforma de petróleo P-52, que começou a operar em 2007. Na época, participei de um seminário na Petrobras, no qual foi apresentado parte processo do construção do projeto.

Por meio de um sistema computacional, os engenheiros criaram um ambiente 3D para verificar os gargalos e interferências que a plataforma ofereceria aos colaboradores. Assim, com o desenho de um humano de estatura média, viram onde ele poderia bater a cabeça, qual era a melhor e mais rápida rota de fuga em caso de incêndio, as possibilidades de melhoria do espaço, entre outros. O plano de ação foi todo construído sob essa ótica.

O resultado é que ainda na fase de desenho, foi possível melhorar o processo da construção da P 52, mitigando riscos que poderiam ter acontecido caso a obra fosse construída sem identificação de perigos e avaliação dos riscos.

O papel do Engenheiro na hierarquia de controle

Pensar na hierarquia de controle na hora da construção do projeto certamente irá diminuir as chances de riscos quando o projeto estiver pronto. Mas nem sempre fazemos esse trabalho na fase inicial e na maioria das vezes é por falta de conhecimento das empresas e gestores.

A hierarquia deveria nascer na concepção do processo e quando assim não acontece, ainda podemos, como engenheiros, solucionar e mitigar riscos. Para isso, deve-se levar em consideração as ações expostas na pirâmide invertida, especialmente pensando nela em ordem cronológica e de necessidade de aplicação.

Quanto menos riscos em termos de segurança a empresa tiver, maior é a chance de sucesso dela frente ao mercado, bem como da satisfação de seus colaboradores. É dever da engenharia observar e analisar esses riscos, a fim de compreender de modo macro a filosofia da hierarquia de controles e melhor satisfazer os anseios da empresa ou corporação. Por isso que eu, com engenheiro especialista em movimentação estratégica de cargas e operações de içamento, procuro transmitir meu conhecimento tanto no LinkedIn, como nas operações e treinamentos que ministro, para que cada vez mais as pessoas compreendam sobre esse assunto e as empresas tenham equipes multidisciplinares que sejam capazes de fazer um controle mais efetivo das atividades.

Veja abaixo um exemplo de conteúdo que compartilho no meu canal do YouTube e que tem auxiliado diversos profissionais a melhorarem a segurança nas operações:

A hierarquia de controle de riscos é aplicada nas operações da sua empresa? Comenta aqui abaixo o que mais você gostaria de saber sobre ela.

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